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Há calor na quadra
sinos, toalhas de linho
e mensagens doces
regadas com azeite e vinho.





Eu trago as minhas mãos geladas, de tanto percorrer blogues e espiar conversas. E ainda são os risos os sinos que vibram, as luzes quentes que duram.
Que é feito dos meus olhos de leite? Dos meus olhos de lã?
Não sei se me alegre ou se fique zangada, perdura o calor nesta quadra exagerada. Tão forçada como esta rima. Mas o meu Natal vem lá do cimo, do Alto Douro. Vem de longe e traz os montes às costas. Traz o vento frio, que talha a pele, e até a sombra dos penedos. Traz presépios de gente com Meninos Jesus de rostos rosados pelo cieiro. E alguns, mais pequenos, de musgo, com pastores que carregam cordeiros. Lá de longe, onde neva na flor da amendoeira e nos frutos moídos para esmeros conventuais. Lá de longe, onde os olhos são de lã apertados contra a alma. E onde há fogueiras colectivas que assinalam as aldeias e iluminam os cumes e os passos. Um caminho, um burro, uma Maria e um José.


Uns olhos de leite que não cessam de perguntar:
- Avó, por que é que o Menino está nu? Não tem frio?
O meu Natal guarda-se esperançado no punhado de castanhas que vão assar com o peru, pois já não se joga ao rapa com pinhões, mas com feijões. Ou já não se joga nada. Adeste fidelis! Uma vela acesa, um livro aberto na página certa, e um menino coberto com um xaile de lã, pois que os olhos de leite lá convenceram a avó que aquele menino tinha as mãos geladas. Sobre a toalha bordada com sinos e azevinho, há receitas antigas da avó Maria, perfume a canela e pinho, mensagens doces que nos chegam lá de longe regadas com azeite e vinho...



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