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Há um sino que dobra,
no campanário barroco da igreja matriz.
Uma saudade que vibra num choupo dourado.
Um queixume que espevita na serpente impávida do rio.
No aroma desperto do vinho.



«dias ruivos estes, às portas do ano novo. dir-se-ia que passam tangentes ao crepúsculo. são ruivos sim, como chavetas de cobre. é do sol desmaiado e das horas lentas com que diluis o olhar na paisagem. é talvez das quatro estações de vivaldi. seria ruivo, janus – o das duas caras? não me escutou sobre a divindade. repara! chamou-me, apontando o céu. ali para sudoeste, nas tuas dez horas, a crina de um cavalo árabe, fulgindo ao vento. demasiado ágil e veloz para um pobre coração enraizado - pensei. são cirros altíssimos. sinal de bom tempo. melhor assim, sempre alargam um bocadinho estas tardes acanhadas. poéticas de tão contidas. ficamos um pouco mais a afogar o olhar no poente. ocupados só em beber o ocaso. embriagados de quietação, com os pêndulos a bater a distância. compassados. cingidos. serenos. próximos da face da noite e da fase da lua. hoje, plena. sem nenhum deus vingativo. sem nenhum adeus tardio.»

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